sábado, 9 de janeiro de 2010

Sapo, falando com os mortos


Dizem que temos as mesmas possibilidades dos camaleões, adquirimos as mesmas cores de nosso entorno, nos tornamos iguais ao meio ambiente, nos tornamos sempre o que queremos nos tornar, enganamos a nós mesmos, então somos capazes de enganar aos outros, não é mesmo? Aconselho sempre a quem escreve ou deseja escrever e até mesmo viver: “cuidado com o que você escreve!” Tem gente que afirma que escreve coisas que os mortos lhe ditam. Os mortos falam pouco, quase nada, quando muito sussurram para poucos, os vários mortos ou eguns, que encontrei numa jornada que fiz a Shambala me disseram isso. Os mortos ficam algum tempo parados para depois dividirem o seu corpo como no mito de Ísis e Osíris e não permanecem o tempo todo, inteiros para contar ou ditar alguma coisa.

Lembram-se das Sibilas, do templo de Delfos que quase morriam quando ouviam o outro mundo? Difícil lidar com os mortos, é mais fácil lidar com o desconhecimento e ignorância dos outros que com eles.

Sobre realizar pesquisas com realidades aparentemente adjacentes para escrever coisas que não conhecemos, testei essa possibilidade quando escrevi um livro para crianças chamado Eu, o Sapo.

Como precisava de alguns elementos necessários para a construção desse texto fui viver algum tempo em um pântano junto com um lagarto e deixei que a natureza da região agisse sobre mim, em pouco tempo eu possuía aquela cor verde musgo natural e coaxava como qualquer rã ou sapo da região. Não era de todo infeliz e fui bem aceito por eles e, em pouco tempo, fui considerado um igual.

Tive que abandonar a experiência depois de dois meses e só não me tornei um sapo verdadeiro porque minha esposa industriosa e cuidadosa comigo, raspou o limo que eu havia adquirido e fez com que eu retornasse ao convívio humano, o que me levou a imaginar também alguns paralelismos.

Os seres humanos não estão muito distante dos sapos, a maior parte vive na lama, aos pulos, botam ovos e se acham bonitos, olham mais para os lados do que para si mesmo ou para frente...

Mas o que eu havia buscado naquele reino, encontrei.

Escrevi o meu relato e hoje ainda coaxo um pouco para não perder a prática.

Mas, o pior para mim ainda são as noites de verão quando fico quase louco ao ver aquelas mariposas em torno das lâmpadas e tento agarrá-las pulando, e não consigo.

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